domingo, 10 de fevereiro de 2008

A Mangueira não é mais a mesma

Na chegada a São Paulo, pelo menos três pessoas me perguntaram a razão de a Mangueira ter ficado numa colocação tão ruim no Carnaval deste ano - ficou em décimo lugar. Perguntaram se a escola fez uma apresentação ruim, se cometeu erros etc. A escola não estava ruim e tecnicamente não cometeu erros. Porém, o erro cometido pela Mangueira, pelo menos aos meus olhos, é que a escola esqueceu sua história, sua tradição. O samba era bom e tinha muita coisa bonita para se ver no desfile, mas não era a Mangueira. Estava irreconhecível.

A Mangueira trouxe o enredo sobre os 100 anos do frevo, mas se esqueceu que uma figura muito mais importante para a escola - e para o samba - também completaria 100 anos em 2008 caso estivesse vivo: Cartola. Para mim, esse foi o primeiro erro da Mangueira.

Cartola, um sambista maior até mesmo que o samba, foi lembrado somente no último carro da escola. Mas essa foi uma lembrança de última hora, e desconfio que foi só porque a Viradouro o homenageou na letra do samba e em seu enredo. O refrão do samba da Viradouro lembrou a música mais conhecida de Cartola, As Rosas não Falam, e dizia "Bate outra vez o meu coração / Pois já vai terminando o verão / As rosas não falam / Na Viradouro exalam o perfume de uma canção".

A escola de Niterói também colocou no último carro uma linda escultura do compositor, com várias flores animadas e, como único destaque, Beth Carvalho. A mesma Beth Carvalho que foi desprezada pela Mangueira no ano passado. Em 2007, a escola não deixou a intérprete subir no carro que trazia os baluartes.

Ao não cantar Cartola, a Mangueira mostrou que está mais em busca de patrocínio do que outra coisa, pois recebeu uma boa verba do governo pernambucano para desenvolver o enredo sobre o frevo, ritmo típico do Estado.

Imagino que talvez a morte de Dona Zica e de outros personagens tão importantes da Mangueira tenha feito a escola perder o rumo. Jamelão faz muita falta também. Pelo segundo ano consecutivo não interpretou o samba por estar doente, debilitado. Embora o intérprete Luizito tenha realizado um bom trabalho, a escola está com uma voz diferente, mais parecida com as outras agremiações. O samba está mais rápido, e a bateria da escola tem feito coisas até então inconcebíveis para a ala dos ritmistas da verde e rosa.

Mesmo com outro intérprete, a escola tem de manter sua identidade. Todas as escolas mantêm sua personalidade, independente de terem esse ou aquele carnavalesco ou intérprete do samba. Faltou à Mangueira, portanto, a magia típica que a faz uma das maiores escolas do Rio de Janeiro. A Mangueira não é mais a mesma. Cartola, que nunca teve um enredo o homenageando, que o diga.

* Andrea Catão

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Império Serrano volta ao Grupo Especial

O resultado do Grupo de Acesso A (veja classificação abaixo) confirmou em parte nossas previsões. O título da Império Serrano pode até ter sido merecido, mas a quinta colocação da União da Ilha é difícil de engolir. A escola estava perfeita. É inconcebível que os jurados tenham tirado pontos dela em quesitos como Comissão de Frente e Samba-enredo.

1ª - Império Serrano - 239,8
2ª - Acadêmicos da Rocinha - 239,1
3ª - Acadêmicos de Santa Cruz - 238,9
4ª - Renascer de Jacarepaguá - 238,5
5ª - União da Ilha - 238,4
6ª - Caprichosos de Pilares - 237,9
7ª - Estácio de Sá - 237,7
8ª - Império da Tijuca - 234,7
9ª - Cubango - 234,6 (rebaixada)
10ª - Lins Imperial - 234,6 (rebaixada)

* Christiano Bianco

Injustiças do Carnaval

De volta a São Paulo, com a Beija-Flor bicampeã, vale ressaltar algumas incongruências que vieram à tona na apuração do Grupo Especial. A Portela e a Unidos da Tijuca, quarta e quinta colocadas, respectivamente, estavam muito melhores que a Grande Rio, que conquistou a terceira posição. Injusto o sétimo lugar da Viradouro, que merecia, no mínimo, ficar em terceiro.

Depois vamos analisar mais detalhadamente os resultados. Mas cabe externar uma dúvida: como pode ter a Grande Rio recebido três notas 10 de evolução se o antepenúltimo carro quase invadiu a frisa do setor 11, causando a paralisação de toda escola por alguns minutos? O único jurado que tirou ponto da escola neste quesito foi o do módulo 4, que visualizou melhor o fiasco. Mas certamente o julgador do módulo 3 presenciou o problema na evolução, já qua ainda faltavam dois setores da escola para passar. Além disso, a agremiação de Caxias começou a apuração com 0,1 ponto a menos, como punição pelo destroncamento da última alegoria.

A menção triste fica para a São Clemente, que volta ao Grupo de Acesso, apesar do belo desfile. Não merecia tantas notas baixas. As seis primeiras voltam à Sapucaí no sábado para o Desfile das Campeãs.

Confira a classificação do Grupo Especial, definida nesta quarta, dia 6:

1ª - Beija-Flor de Nilópolis - 399,30 pontos
2ª - Salgueiro - 398,00
3ª - Grande Rio - 396,90
4ª - Portela - 396,80
5ª - Unidos da Tijuca - 396,50
6ª - Imperatriz Leopoldinense - 396,50
7ª - Viradouro - 396,00
8ª - Mocidade Independente - 395,10
9ª - Vila Isabel - 394,60
10ª - Mangueira - 393,90
11ª - Porto da Pedra - 388,20
12ª - São Clemente - 387,50

* Christiano Bianco

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Rolo compressor

A Beija Flor é bicampeã do Carnaval carioca. E, pelo desfile da escola de Nilópolis, a última a desfilar na Sapucaí na madrugada de terça-feira, essa era uma certeza. Quando mal tinha iniciado a sua apresentação, comentei com meu colega de blog, Christiano Bianco, que não era coincidência a Beija Flor ter sido campeã nos últimos anos. A Beija Flor passou como um rolo compressor na avenida, como se destruísse os sonhos de todas as outras escolas, que também fizeram bonito na passarela do samba. Mas a Beija Flor estava escandalosamente impecável. Estava perfeita.

Mesmo assim, eu ainda tinha esperanças que os jurados se sensibilizassem pelo belo desfile apresentado pela Unidos da Tijuca e pela Portela. Afinal, tem sido uma chatice essa supremacia da Beija Flor, que levou o título em 2003, 2004, 2005 e 2007. É claro que neste ano a escola estava tecnicamente superior às demais e empolgou ao passar pela avenida. Porém, eu esperava um resultado diferente.

Queria ver a Tijuca campeã pelo bom trabalho que tem feito nos últimos carnavais. A escola tem mantido sua coerência nos desfiles, fazendo apresentações lineares, criativas e de muito luxo. Também queria ver a Portela campeã, que trouxe muita alegria aos seus fiéis torcedores, que desde 1984 não têm motivos para comemorar a conquista de um campeonato. A Portela me emocionou a ponto de me levar às lagrimas, como já escrevi num post anterior.

De qualquer forma, o título dado à Beija Flor foi merecido. Só espero que nos próximos carnavais as coisas sejam um pouco diferentes. Depois, tanto eu como o Christiano deveremos comentar o resultado, as notas e tudo o mais. Não deixem de acompanhar.

* Andrea Catão

Tijuca e Beija-Flor na briga pelo título

O show das escolas do Rio prosseguiu no segundo dia de desfiles. Tijuca e Beija-Flor encantaram e devem brigar pelo campeonato. Veja relato analisado do que cada uma mostrou na Sapucaí:

Mocidade - A Bateria do mestre Jonas entrou forte e manteve o ritmo durante toda a passagem, ainda que com um samba com letra pouco atraente. A comissão de frente foi uma das mais bonitas e completas, com dança e coreografia da chegada da família real. Dom João, Carlota Joaquina e Maria Louca estavam muito bem caracterizados, com lindos e perfeitos figurinos. A liteira se transformava em carruagem, que era puxada por negros fazendo as vezes de cavalos. Lindos figurinos. Os módulos que puxavam o abre-alas traziam seres mitológicos, como o cão de três cabeças. Carros bem acabados, com atenção para detalhes, luxuosos, mais clássicos. Já as fantasias estavam simples. Houve buraco grande no recuo da bateria, que entrou direto. Todos os integrantes cantaram o samba.

Unidos da Tijuca - Passou perfeita tecnicamente, sem problemas de evolução. Na comissão de frente, mascarados levavam biombo espelhado por dentro com coleção de máscaras no lado de fora. Falando de coleções, a escola toda estava muito luxuosa, com muitas alegorias vivas, herança de Paulo Barros - o carnavalesco Luiz Carlos Bruno trabalhou com ele. O abre-alas era excepcional: um pavão dourado (símbolo da escola) com plumas que se abriam (agitadas por componentes), formando o rabo suntuoso da ave. Outros exemplos: carros com pingüins vivos que saiam de geladeiras, bonecas que se movimentavam, duendes e outro com o Museu do Louvre. A alegoria com coleções de objetos antigos trazia um enorme candelabro segurando velas humanas. Fantasias criativas e bem-humoradas, como a da ala de ursos azuis só com gordos de barriga de fora. A rainha da bateria Adriane Galisteu mostrou garra. Houve problemas no áudio do sambódromo. Adotou método tradicional, com casal de mestre-sala e porta-bandeira após bateria, diferentemente da Mocidade e das quatro últimas escolas a se apresentar no domingo. É forte candidata ao título.

Imperatriz Leopoldinense - O ótimo samba foi cantado de forma eufórica por todos componenentes e pelo público. Comissão de frente composta por várias Donas Marias. Carros luxuosos, que não chegam a ser espetaculares. Muitas coroas por todo o desfile. A escola mostrou mais o lado da nobreza. Podia retratar melhor a Estação de Ramos, berço da Imperatriz, e o universo das Marias e Joãos comuns citados no enredo. Lindo o casal de mestre-sala e porta-bandeira, com fantasia rosa, após quarta ala. A rainha Luiza Brunet estava ótima. A Imperatriz fez desfile técnico, sem erros de evolução e harmonia, contudo faltaram criatividade e imponência, marcas da carnavalesca Rosa Magalhães, que veio no último carro. As fantasias estavam relativamente simples.

Vila Isabel - Comissão de frente retratando as primeiras leis trabalhistas, com grandes penas de ouro. O abre-alas grandioso era puxado por cavalos. Destaque para o carro da imigração, com samurais e um dragão soltando fumaça, e para o penúltimo, com linha de montagem de automóveis. A última alegoria trazia os "trabalhadores de Vila Isabel", com carteiras de trabalho de "sambistas profissionais" de ícones da agremiação, como Martinho da Vila, Noel Rosa e Aladir. Samba rápido e cantado por todos. Problemas no som da Sapucaí, que tiraram o áudio do microfone, podem ter atrapalhado a harmonia, embora todos componentes continuassem a entoar o samba. A ala das baianas veio maravilhosa, em três cores: azul escuro, claro e branca. Fantasias e carros luxuosos. Boa variação de cores. Carros mais tradicionais em relação ao ano passado. A história do trabalho no Brasil foi bem retratada.

Grande Rio - Comissão de frente trazia atletas da Intrépida Trupe, com meias arrastão aparecendo a bunda - dois deles vinham dentro de uma grande bolha. Abre-alas com várias bolhas de gás comandadas por acrobatas da mesma companhia. Carros grandiosos, com animais e muito verde. O antepenúltimo, que tinha duas enormes onças, desgovernou-se no setor 11 e quase empacou. Após várias manobras seguiu o rumo certo. O incidente, já com mais de uma hora de desfile, prejudicou a evolução, e a escola teve de correr, terminando o desfile com 1h19. Harmonia boa, mas não levantou o público. Muito rica, com fantasias um tanto pesadas, muitas com véus atrás, desnecessários, pois atrapalhavam a visão do que realmente interessa. No penúltimo carro uma cobra gigante espirrava perfume forte e enjoativo. Faltou gás à Grande Rio.

Beija-Flor - Desfile impecável, sobre o estado do Amapá e a capital Macapá. Comissão de frente representando o sol e carro abre-alas muito luminoso. Alegorias bem acabadas, mas sem muita criatividade. Lindíssimas fantasias. Escola coesa, cheia, com harmonia e evolução irrepreensíveis. Efeito sincrônico de cores. Enredo poderia ter sido mais bem desenvolvido, mostrando mais claramente a linha do Equador e os dois hemisférios separados por ela. O mestre-sala Claudinho e a porta-bandeira Selminha Sorriso estavam deslumbrantes - suas fantasias tinham diferentes camadas de cores, formando um belo arco-íris. Mais uma vez a Beija-Flor é favorita.

* Christiano Bianco

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Portela e Viradouro brilham no primeiro dia

Belas apresentações marcaram o primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Portela e Viradouro foram as melhores. Confira um breve resumo comentado, por ordem de entrada:

São Clemente - Linda comissão de frente com Rogéria como Maria Louca e um tripé com trono onde sentava Dom João. Enormes cisnes negros e azuis puxavam o abre-alas luxuoso. Muito dourado em todo o desfile. Primeiras alas eram coreografadas, com roupas distintas para homens e mulheres. Ótimo acabamento das fantasias e carros. O samba mostrou-se animado. Alegoria com elefante que se mexia chamou a atenção. Frangos dançando minueto no carro de Dom João deram toque de irreverência. Mas faltou mais critividade e ironia, marcas da escola preta e amarela de Botafogo. A impressão final é de muito brilho e bom gosto de Milton Cunha e Mauro Quintaes.

Porto da Pedra - Passou com samba - um dos melhores do Grupo Especial - em ritmo acelerado e batida forte da bateria, em homenagem aos 100 anos de imigração japonesa. Na comissão de frente, samurais em torno de um grande templo japonês. Foi emocionante ver a ala com mais de 300 japoneses e descendentes, que cantavam com o coração o samba enredo. Grandes carros muito bem acabados e fantasias caprichadas com detalhes surpreendentes: bambus com cerejeira, barcas de sushi entre outros elementos que simbolizavam a cultura japonesa. Muito dourado e tons pastéis. O recuo da bateria foi perfeito. Antes, a escola chegou a parar, provavelmente, por causa de problemas com algum carro na dispersão, o que pode prejudicar a escola no quesito evolução.

Salgueiro - Entrou com samba forte, levantando para valer a Sapucaí num enredo que exaltava o Rio de Janeiro. Comissão com nobres portugueses com guarda-sóis e uma índia. De um banana-boat gigante saía uma esteira imitando a calçada de Copacabana. Abre-alas era uma espécie de paraíso tropical com muito brilho amarelo e dourado. Belos carros como o da praia e da Zona Norte, com suburbanos sambando, seja na roda de samba seja tomando banho de mangueira. Em outra alegoria, acrobatas mergulhavam em camas elásticas. Fantasias luxuosas, mas com pouca originalidade. Evolução e harmonia boas. O carnavalesco Renato Lage fez o básico e o Salgueiro deve ficar com uma boa colocação.

Portela - Conseguiu arrancar alguns gritos de "é campeã", pelo menos no setor 11, principalmente depois que passou o carro em que um bebê raquítico em meio à natureza morta e a uma paisagem árida, que se transformavam em flores e em um bebê saudável. Fantasias perfeitas de animais e flora, com muito brilho e bom gosto nas cores. Carros enormes, com animais movimentados pela mesma técnica usada da festa de Parintins. Maravilhoso o gigantesco abre-alas com a águia estilizada fundida com água. Muito azul nas primeiras alas, representando a água, fonte da vida. A comissão de frente tinha seres carecas, todos pintados de branco e azul, bastante originais. A Portela teve um pequeno problema de evolução: na metade do desfile (40 min) chegou a correr e depois a escola simplesmente parou, possivelmente em razão de percalços na dispersão. De resto, o desfile foi suntuoso, imponente e empolgante. O samba "água com açúcar" funcionou na avenida, e o enredo ecologicamente correto surpreendeu a todos. Ao lado da Viradouro, foi a melhor do dia.

Mangueira - Entrou com batida forte e o vozeirão do intérprete Luizito, que substitui Jamelão desde o ano passado - e desta vez foi até o fim, já que em 2007 ele teve princípio de enfarte semanas antes do Carnaval e participou apenas de uma parte do desfile. A escola levantou a platéia como sempre. Comissão com dançarinos de frevo que vieram de Recife estava bastante simples, mas cumpriu bem a função de apresentar o enredo sobre o ritmo pernambucano. Carros com bom gosto de luz e cores, mas nada excepcionais. Evolução e harmonia corretos. A última alegoria homenageou o ilustre mangueirense Cartola, que completaria 100 anos de vida em 2008.

Viradouro - Antes de entrar na avenida, o presidente da agremiação justificou que não quis ofender judeus, sobre a polêmica envolvendo o carro do Holocausto, proibido pela Justiça. O esquenta com o samba de Orfeu, de 1998, agitou a galera. A criatividade de Paulo Barros não tem limites. Todo o desfile foi marcado por invenções revolucionárias; os próprios componentes pareciam estar assustados com a ousadia mostrada nas fantasias e, sobretudo, nos carros. Se a intenção era causar arrepios - e chocar a platéia - ele conseguiu. Todos carros eram coreografados. A comissão de frente trouxe guerreiros do gelo que, com um canhão, exterminavam um homem junto ao paredão de um iglu estilizado. Ele era tranformado numa escultura de gelo, que caía e se quebrava. Essa encenação também pode ser interpretada como uma passagem da Segunda Guerra Mundial já que uma grande cortina de fumaça se formava, lembrando as terríveis câmaras de gás utilizadas por Hitler. Da fantasia do mestre-sala, papéis picados eram jorrados.

Inovadores e de prender a respiração o abre-alas com esquiadores e os carros com mulheres no cabeleireiro; o que trazia um recém-nascido, retratando a dor do parto; o de terror; o da kama-sutra, com casais nus pintados de dourado simulando atos sexuais; o de componentes fantasiados de baratas atacando restos de comida; e o apoteótico carro com 100 rosas que se abriam, em homenagem aos 100 anos de Cartola, tendo Bete Carvalho à frente. Fantasias muito criativas, mas algumas eram muito pesadas, como as de pingüim. A bateria jogava bolas ao público, e a rainha Juliana Paes era erguida por alguns ritmistas. Destaque absoluto para o carro utilizado como resposta à censura da alegoria do Holocausto, trazendo pessoas de branco amordaçadas, com Tiradentes no alto, e as inscrições "Liberdade ainda que tardia" e "Não se contrói futuro enterrando a história". Para ficar no lugar-comum, o desfile da Viradouro foi de arrepiar! Se não estiver entre as cinco primeiras será injustiça.

* Christiano Bianco

Ainda o Grupo de Acesso

Só um rápido registro, o jornal Meia Hora de Notícias apontou a Ilha e a Império Serrano como as favoritas do povão no Grupo de Acesso. E diz que correm por fora Estácio, Santa Cruz e Rocinha. O prognóstico confirma e complementa nossas previsões. Conforme post anterior citei como fortes candidatas Ilha, Império Serrano, Império da Tijuca, Santa Cruz, Caprichosos e Rocinha, enquanto Andrea apostou em Caprichosos, Império da Tijuca, Santa Cruz e Império Serrano.

* Christiano Bianco

O renascimento da Portela

Tenho certeza que presenciei um momento histórico na noite de domingo na Marquês de Sapucaí: o renascimento da Portela. E que felicidade foi ver a escola que mais títulos acumulou no Carnaval carioca fazer o desfile mais emocionante da noite.

Até esse momento, jamais tinha chegado às lágrimas durante uma apresentação. Já vi muita gente chorar por uma escola, mas achava que era balela, conversa fiada ou qualquer outra coisa do tipo. Mas lá estava eu, chorando feito criança, quando a última alegoria, seguida pela bateria, passou pela avenida.

Depois de presenciar, ano após ano, a queda de qualidade do Carnaval da escola, que realmente definhava, a surpresa foi tanta que eu tinha a impressão de que a Portela era tão grande que mal cabia na passarela do samba.

Nem vou me estender contando o desfile. Acredito que descrever a magia da apresentação da Portela é pretensão demais. Quem viu sabe do que estou falando. Outras escolas da noite fizeram ótimos espetáculos, mas eu acho que a Portela pode, finalmente, ganhar o seu primeiro Carnaval na Sapucaí. É que o último título da escola de Madureira foi em 1984, quando o sambódromo ainda não tinha sido inaugurado.

Salve a Portela!

* Andrea Catão

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Grupo de acesso nivelado

O grupo de acesso A do Carnaval do Rio foi marcado pelo equilíbrio. As escolas estiveram bastante niveladas. É claro que podemos apontar aquelas que têm mais chance de subir ao Grupo especial, mas apenas uma terá essa honra. A maratona de dez desfiles começou às 20h do sábado, dia 2, e só terminou perto das 7h. Com tempo instável, a chuva teimou em aparecer, sobretudo nos três últimos desfiles. Na frisa do setor 11 do Sambódromo, eu e a colega Andrea Catão presenciamos com clareza o movimento de recuo da bateria e os problemas de evolução, que normalmente surgem nos últimos minutos de apresentação. Vamos a um breve resumo dos desfiles das agremiações, por ordem de entrada:

Estácio de Sá - Primeira a entrar na Sapucaí, a Estácio falou das previsões do futuro com muito luxo, uma das marcas de Cid Carvalho, o mesmo da Mocidade deste ano. No ano passado ele arrasou na Vila Isabel, que ficou injustamente na sexta colocação. As fantasias eram de extremo bom gosto. No entanto, houve problemas de iluminação no tripé da comissão de frente, e a escola correu no final. A porta-bandeira desmaiou perto da praça da Apoteose.

União da Ilha - Saiu da avenida, merecidamente, aos gritos de "é campeã". Desfile impecável sob o ponto de vista da harmonia, empolgação e qualidade do samba-enredo (reedição do antológico "É Hoje", de 1982), com leveza e alegria. Houve buraco após o recuo da bateria. A Ilha não estava tão luxuosa, mas a harmonia nas cores e carros bem originais garantiram o bom desempenho. A comissão de frente era composta por cavalos-marinhos, que integram o brasão da escola. O samba, claro, foi cantado por todos: platéia e componentes. O carnavalesco é Jaques Vasconcelos, que em 2007 esteve à frente do Império Serrano.

Acadêmicos do Cubanco - A bela comissão de frente trouxe dez casais representando bárbaros, com tambores gigantes. Na coreografia, os sambistas subiam e giravam em cima dos tambores. Algus carros alegóricos apresentaram problemas na estrutura, com peças quebradas ou faltando. Em um deles, dois queijos cederam e um destaque caiu de uma altura de mais de 3 metros - a moça foi socorrida rapidamente pelos bombeiros. Na bateria, uma surpresa: os ritmistas se dividiam em duas alas e fogos de artifício estouravam. Um carro só com negros exemplificou bem o enredo sobre Mercedes Batista, a primeira bailarina negra do Theatro municipal do Rio. Bom samba e escola bem colorida.

Lins Imperial - Falando da vinda da família real ao Brasil, há 200 anos, estava muito rica. Na comissão de frente, soldadinhos de chumbo, bailarinas e outros brinquedos de criança faziam a coreografia. Os carros estavam suntuosos, como o abre-alas, em dois módulos, com três cabeças de dragão que subiam e desciam, levando destaques em cima. Outro carro trazia negros - escravos, lavadeiras etc - imóveis e que, de repente, se moviam. Houve problemas de evolução, com vários buracos. Acabou em cima da hora. O penúltimo carro. muito pesado, emperrou e as alas seguintes tiveram de passar pelo lado dele. Fantasias originais, bem acabadas e coloridas. O casal de mestre-sala e porta-bandeira estava bastante luxuoso, com muito brilho, nas cores da escola: verde e rosa.

Império da Tijuca - Com enredo sobre o Jardim Botânico, criado por Dom João, apresentou comissão de frente composta por casais de nobres. Carros grandiosos, muito bem feitos e acabados e com iluminação adequada. A exceção foi a mão quebrada da escultura gigante de Dom João, que ameaçava cair. Destaque para um carro retratando a entrada do Jardim Botânico, com palmeiras reais. Ótimo samba. Vestimenta do casal de mestre-sala e porta-bandeira em vários tons de rosa, com muito luxo e borboletas na saia dela. Todos cantaram o samba. Não teve
problemas de evolução. Deve disputar o título.

Caprichosos de Pilares - Enredo sobre a cidade fluminense de Itaboraí. Comissão de frente com casais de índios com arco e flecha. Casal de mestre-sala e porta-bandeira vinha logo atrás, o que não é muito usual. Grandes e belos carros sobre história da cidade, retratando laranjais, artesanato em barro e indústria. Alas compactas. Desfile correto e componentes cantando o samba. Passou com muita pegada e batida marcante da bateria.

Santa Cruz - Sétima a desfilar, apresentou enredo sobre a cidade de São Francisco Xavier de Itaguaí. Entrou com comissao de frente com seres aquáticos verdes bastante criativos. No carro abre-alas, parte do queijo de destaque central começou a pegar fogo em frente ao setor 11. O sambista, fantasiado de Dom João, saiu a tempo e os bombeiros agiram rápido. Depois do susto, o destaque voltou a seu posto. Carros suntuosos e samba forte. Teve pequeno problema de evolução. O carnavalesco é Fran Sérgio, que integra comissão de Carnaval da Beija-flor. É forte candidata ao título.

Renascer de Jacarepaguá - Comissão de frente com carruagem feita de estrutura metálica dourada, rodeada por cavaleiros portugueses e franceses, que simulavam uma batalha. Lindas baianas com roupa preta e cabeleira branca, como fidalgas. Abre-alas com estátuas humanas (guerreiros), que se movimentam em certos momentos do samba. Apesar da chuva forte, a escola não perdeu a empolgação. Bons carros e fantasias. Evolução e harmonia corretas.

Acadêmicos da Rocinha - Com muito brilho, falou do Nordeste. Comissão de frente com guerreiros pierrôs. Destaque para carro com cangaceiros que levantavam a bandeira da paz e para a alegoria de Padre Cícero, circundada por romeiros. O refrão do samba era fácil e empolgante. Pode perder pontos, pois a ala das baianas tinha componentes abaixo do mínimo permitido. Desfilou com garra na chuva e desponta como postulante ao título.

Império Serrano - Fechou o desfile debaixo de forte chuva, falando de Carmem Miranda. Muito colorida, leve e alegre. Buraco na volta do recuo da bateria. Lindas fantasias criadas por Renato Lage. No final, o carro que trazia uma roleta de cassino apagou-se. Toda a escola cantou o empolgante samba de ponta a ponta. Está entre as favoritas.

* Christiano Bianco

Folia e Dignidade no Carnaval

Não deixem de entrar no blog no fim da tarde deste domingo. O colega Christiano Bianco vai escrever um texto sobre o desfile das escolas de samba do grupo de acesso do Carnaval carioca, que terminou na madrugada de hoje. Ele fará uma análise do desfile, que teve União da Ilha, Estácio de Sá, Império Serrano, Rocinha, Acadêmicos da Santa Cruz, entre outras escolas.

Christiano, é claro, torcia pela União da Ilha, que reeditou o samba "É Hoje", que realmente foi o que mais empolgou o público. Mas pela apresentação, a Ilha não deve estar no grupo especial em 2009. Eu, particularmente, acho que a disputa ficará entre Caprichosos de Pilares, Império da Tijuca, Santa Cruz e Império Serrano. É esperar a quarta-feira de cinzas para conferir o resultado.