segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Portela e Viradouro brilham no primeiro dia

Belas apresentações marcaram o primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Portela e Viradouro foram as melhores. Confira um breve resumo comentado, por ordem de entrada:

São Clemente - Linda comissão de frente com Rogéria como Maria Louca e um tripé com trono onde sentava Dom João. Enormes cisnes negros e azuis puxavam o abre-alas luxuoso. Muito dourado em todo o desfile. Primeiras alas eram coreografadas, com roupas distintas para homens e mulheres. Ótimo acabamento das fantasias e carros. O samba mostrou-se animado. Alegoria com elefante que se mexia chamou a atenção. Frangos dançando minueto no carro de Dom João deram toque de irreverência. Mas faltou mais critividade e ironia, marcas da escola preta e amarela de Botafogo. A impressão final é de muito brilho e bom gosto de Milton Cunha e Mauro Quintaes.

Porto da Pedra - Passou com samba - um dos melhores do Grupo Especial - em ritmo acelerado e batida forte da bateria, em homenagem aos 100 anos de imigração japonesa. Na comissão de frente, samurais em torno de um grande templo japonês. Foi emocionante ver a ala com mais de 300 japoneses e descendentes, que cantavam com o coração o samba enredo. Grandes carros muito bem acabados e fantasias caprichadas com detalhes surpreendentes: bambus com cerejeira, barcas de sushi entre outros elementos que simbolizavam a cultura japonesa. Muito dourado e tons pastéis. O recuo da bateria foi perfeito. Antes, a escola chegou a parar, provavelmente, por causa de problemas com algum carro na dispersão, o que pode prejudicar a escola no quesito evolução.

Salgueiro - Entrou com samba forte, levantando para valer a Sapucaí num enredo que exaltava o Rio de Janeiro. Comissão com nobres portugueses com guarda-sóis e uma índia. De um banana-boat gigante saía uma esteira imitando a calçada de Copacabana. Abre-alas era uma espécie de paraíso tropical com muito brilho amarelo e dourado. Belos carros como o da praia e da Zona Norte, com suburbanos sambando, seja na roda de samba seja tomando banho de mangueira. Em outra alegoria, acrobatas mergulhavam em camas elásticas. Fantasias luxuosas, mas com pouca originalidade. Evolução e harmonia boas. O carnavalesco Renato Lage fez o básico e o Salgueiro deve ficar com uma boa colocação.

Portela - Conseguiu arrancar alguns gritos de "é campeã", pelo menos no setor 11, principalmente depois que passou o carro em que um bebê raquítico em meio à natureza morta e a uma paisagem árida, que se transformavam em flores e em um bebê saudável. Fantasias perfeitas de animais e flora, com muito brilho e bom gosto nas cores. Carros enormes, com animais movimentados pela mesma técnica usada da festa de Parintins. Maravilhoso o gigantesco abre-alas com a águia estilizada fundida com água. Muito azul nas primeiras alas, representando a água, fonte da vida. A comissão de frente tinha seres carecas, todos pintados de branco e azul, bastante originais. A Portela teve um pequeno problema de evolução: na metade do desfile (40 min) chegou a correr e depois a escola simplesmente parou, possivelmente em razão de percalços na dispersão. De resto, o desfile foi suntuoso, imponente e empolgante. O samba "água com açúcar" funcionou na avenida, e o enredo ecologicamente correto surpreendeu a todos. Ao lado da Viradouro, foi a melhor do dia.

Mangueira - Entrou com batida forte e o vozeirão do intérprete Luizito, que substitui Jamelão desde o ano passado - e desta vez foi até o fim, já que em 2007 ele teve princípio de enfarte semanas antes do Carnaval e participou apenas de uma parte do desfile. A escola levantou a platéia como sempre. Comissão com dançarinos de frevo que vieram de Recife estava bastante simples, mas cumpriu bem a função de apresentar o enredo sobre o ritmo pernambucano. Carros com bom gosto de luz e cores, mas nada excepcionais. Evolução e harmonia corretos. A última alegoria homenageou o ilustre mangueirense Cartola, que completaria 100 anos de vida em 2008.

Viradouro - Antes de entrar na avenida, o presidente da agremiação justificou que não quis ofender judeus, sobre a polêmica envolvendo o carro do Holocausto, proibido pela Justiça. O esquenta com o samba de Orfeu, de 1998, agitou a galera. A criatividade de Paulo Barros não tem limites. Todo o desfile foi marcado por invenções revolucionárias; os próprios componentes pareciam estar assustados com a ousadia mostrada nas fantasias e, sobretudo, nos carros. Se a intenção era causar arrepios - e chocar a platéia - ele conseguiu. Todos carros eram coreografados. A comissão de frente trouxe guerreiros do gelo que, com um canhão, exterminavam um homem junto ao paredão de um iglu estilizado. Ele era tranformado numa escultura de gelo, que caía e se quebrava. Essa encenação também pode ser interpretada como uma passagem da Segunda Guerra Mundial já que uma grande cortina de fumaça se formava, lembrando as terríveis câmaras de gás utilizadas por Hitler. Da fantasia do mestre-sala, papéis picados eram jorrados.

Inovadores e de prender a respiração o abre-alas com esquiadores e os carros com mulheres no cabeleireiro; o que trazia um recém-nascido, retratando a dor do parto; o de terror; o da kama-sutra, com casais nus pintados de dourado simulando atos sexuais; o de componentes fantasiados de baratas atacando restos de comida; e o apoteótico carro com 100 rosas que se abriam, em homenagem aos 100 anos de Cartola, tendo Bete Carvalho à frente. Fantasias muito criativas, mas algumas eram muito pesadas, como as de pingüim. A bateria jogava bolas ao público, e a rainha Juliana Paes era erguida por alguns ritmistas. Destaque absoluto para o carro utilizado como resposta à censura da alegoria do Holocausto, trazendo pessoas de branco amordaçadas, com Tiradentes no alto, e as inscrições "Liberdade ainda que tardia" e "Não se contrói futuro enterrando a história". Para ficar no lugar-comum, o desfile da Viradouro foi de arrepiar! Se não estiver entre as cinco primeiras será injustiça.

* Christiano Bianco

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