terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Fiasco paulistano

Foi publicado no portal de notícias G1 nesta terça-feira que apenas 6% dos ingressos para o desfile das escolas de samba de São Paulo foram vendidos num período de 15 dias. Situação bem diferente da presenciada no Carnaval do Rio de Janeiro, onde os ingressos se esgotaram em questão de minutos. Sim, minutos. Mesmo com preços para lá de salgados, quem perde o dia exato em que as entradas são colocadas à venda no Rio perde o espetáculo. A não ser que recorra aos mercenários cambistas, que cobram pelo menos o dobro do preço de tabela.
A razão é muito simples. O Carnaval de São Paulo, em geral, é um fiasco. Sem contar as regras esdrúxulas criadas pela liga das escolas de samba, que proíbe as melhores escolas de desfilar no grupo especial por serem oriundas de torcidas organizadas de futebol – ou alguém que conheceu de perto o Carnaval paulistano têm dúvida de que a Gaviões da Fiel vinha crescendo muito em qualidade e que a Mancha Verde trilhava pelo mesmo caminho?
São Paulo não vive o Carnaval o ano inteiro, logo não tem subvenção suficiente, e o patrocínio é irrelevante. Até as supostas celebridades que atrai são de uma pobreza sem tamanho. Só tem gente banida do Carnaval carioca por estar em baixa. É triste demais.
Mas esse assunto rende muito pano para a manga até o Carnaval. Vou publicar outros posts sobre o assunto ao longo da semana.

* Andrea Catão

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Crimes, contravenções e Carnaval

Nessa semana que passou, mais um capítulo do "núcleo podre" do Carnaval carioca veio à tona. O presidente da Mangueira e policial militar aposentado, Percival Pires, renunciou ao cargo depois da divulgação de imagens dele entregando uma placa em homenagem ao traficante Fernandinho Beira-Mar e sua mulher Jacqueline Moraes durante a festa de casamento promovida pela noiva em um condomínio da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 20 de outubro. Beira-Mar estava preso em Campo Grande (MS).
O mau-cheiro no samba não é de hoje. Infelizmente jogo do bicho, tráfico, lavagem de dinheiro, corrupção e tantos outros crimes e contravenções têm andado juntos com as escolas cariocas. Os próprios resultados do Carnaval são colocados em xeque. O tricampeonato da Imperatriz Leopoldinense de 1999 a 2001, por exemplo, coincidiu com o período em que o então presidente da agremiação, Luizinho Drummond, comandava a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba). Drummond, hoje solto, já foi condenado e preso por envolvimento com o jogo do bicho.
Há alguns meses os então presidentes da Liesa, capitão Guimarães, e da Beija-Flor, Aniz Abrahão David, o Anízio, foram presos na Operação Furacão,da Polícia Federal, sob a acusação de comandar uma organização que atua na máfia de caça-níqueis. As investigações ainda revelaram, por meio de gravações telefônicas, que os dois estavam por trás de um esquema de compra de jurados para favorecer a Beija-Flor, campeã de 2007 – a escola também foi tricampeã de 2003 a 2005. Anízio teria até contratado um pistoleiro para pressionar jurados e seus familiares. Na época, o jornal O Globo trouxe ampla reportagem sobre esse jogo sujo.
Agora, na tentativa de tapar o sol com a peneira, o governo vem com um discurso demagogo, enfadonho e mentiroso ao propor que empresas estatais banquem as escolas de samba do Grupo Especial do Rio em 2008. Diz reportagem da Folha de S. Paulo desse domingo, 9 de dezembro, assinada por Raphael Gomide: “Lula libera R$ 12 mi para o samba do Rio. Anúncio foi feito por Gilberto Gil, que minimizou suspeitas de irregularidades envolvendo escolas cariocas”. O dinheiro será doado pela Petrobras e pelas petroquímicas Braskem e Unipar, sendo R$ 1 milhão para cada uma das 12 agremiações.
A lógica, burra, é a mesma do financiamento público de campanhas políticas. Ou seja, nós, pobres contribuintes, é que teríamos de pagar para evitar caixa dois, corrupção, superfaturamento etc nos processos eleitorais – e depois deles. Tudo porque o Poder Público mostra-se incapaz de fiscalizar o financiamento de campanhas ou desfiles e de punir rigorosamente os responsáveis pelas absurdas ilegalidades cometidas. No caso do Carnaval não faltam empresas – privadas – interessadas em patrocinar as escolas. Se é que prefeituras e governos estaduais têm ajudado as escolas que falem no enredo de suas cidades ou Estados, como forma de promover o turismo. Mas aí se trata propriamente de patrocínio e não simplesmente de distribuição de verbas.

* Christiano Bianco

domingo, 9 de dezembro de 2007

Pisa forte na avenida

É claro que o post da minha colega de blog intitulado “Estrangeira no samba” foi muito mais um desabafo de uma experiência marcada por uma série de malfadadas coincidências do que um aprendizado de que “estrangeiro no samba só deve observar o espetáculo da arquibancada”. Digo isso com base nas minhas quatro vezes como desfilante – a última delas em 2004, juntamente com a Andrea, desfile este que realmente pode ser considerado o menos glamoroso dos quatro.
Minha estréia foi em 1998 na São Clemente, no Grupo de Acesso. A fantasia não era tão pesada, o samba-enredo empolgava, e o tempo estava bom. A passagem pela Sapucaí transcorreu sem percalços – e a escola subiu para o Grupo Especial. Ter estreado no Grupo de Acesso certamente amenizou a ansiedade e a responsabilidade, servindo como uma preparação para o desafio maior, que é o de ser componente de uma agremiação do Grupo Especial, experiência que ocorreu já no dia seguinte, quando saí pela Mocidade Independente de Padre Miguel. A fantasia era bem maior e mais pesada que a da São Clemente, mas a animação do pessoal da ala e o prestígio de desfilar na verde-e-branco, que havia sido campeã dois anos antes, falaram mais alto. Os 20 minutos – é mais ou menos esse tempo que dura a passagem da cada ala - na passarela do samba voaram. Ver o público cantando e aplaudindo é a maior recompensa.
Por outro lado fica uma ponta de decepção por não poder presenciar o desfile como um todo. Será que teve problema na evolução, os carros alegóricos entraram todos, como foi a apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira e da comissão de frente? São perguntas sem resposta, pelo menos na hora. Por isso, a decisão de desfilar implica abrir mão de ver o espetáculo, apreciar a beleza integral do desfile, que são o deleite do grande público. Nós, blogueiros fãs incondicionais dos desfiles, somos sim voyers.
Meu terceiro momento de “pé no chão” foi na Império Serrano em 2000, no Grupo de Acesso – novamente fui pé-quente e a tradicional escola voltou à elite do carnaval carioca.
Por fim, em 2004, voltei a representar a Mocidade na avenida num ano pouco glorioso para escola, que ficou na (não tão ruim) oitava colocação. Nossa percepção ao atravessar a Sapucaí refletiu o desempenho geral da agremiação, última a desfilar na segunda-feira. Com o dia já amanhecendo e uma chuva persistente, os espectadores que se aventuraram a assistir ao desfile, na maioria certamente fãs de carteirinha da Mocidade, tentavam, sem sucesso, ajudar a levantar os passistas, já exaustos devido à espera interminável na concentração por causa do atraso e da chuva. O samba fraco, com um refrão ridículo (“Pare, pense / Olha a sinalização”) piorou a situação. Prefiro considerar o episódio apenas como um momento infeliz da grande verde-e-branco de Padre Miguel. Se tiver vontade, não hesite em pisar forte na passarela e soltar o folião que existe em você. Afinal, é Carnaval!

* Christiano Bianco

sábado, 8 de dezembro de 2007

O novo DNA do samba (parte 3)

O blog Folia e Dignidade publica hoje a terceira e última parte da entrevista exclusiva concedida pelo carnavalesco Paulo Barros. Ele, que diz ter o coração portelense, é responsável pelo desfile da Unidos do Viradouro, escola de Niterói que em 2008 vai apresentar o enredo “É de arrepiar”. A seguir, a última parte da entrevista:

FOLIA E DIGNIDADE – Qual é a sua escola do coração?
PAULO BARROS – Minha primeira escola foi Portela. No fundo, ainda bate forte (risos).

FOLIA E DIGNIDADE – Você acha que colocar coreografia no desfile tira a espontaneidade dos componentes? O que eliminaria e o que acrescentaria nos desfiles se fosse possível?
PAULO BARROS – Se eu achasse que a coreografia tira a espontaneidade dos componentes, com certeza não utilizaria esse recurso. E quanto ao que tiraria e colocaria nos desfiles, eliminaria as regras para a apresentação e colocaria o povo mais perto dos desfiles.

FOLIA E DIGNIDADE – Você acha que a Viradouro vai vencer em 2008 o desfile das escolas de samba do Rio?
PAULO BARROS – Fazemos Carnaval com a finalidade de vencer.

FOLIA E DIGNIDADE – Qual a importância do intérprete para o resultado final da escola, ou seja, o desfile em si? Como você avalia o trabalho do Dominguinhos do Estácio, que na verdade já está na Viradouro há mais de 10 anos?
PAULO BARROS – Dominguinhos do Estácio não está mais na Viradouro desde outubro. Nosso intérprete é o Nêgo, e estou muito satisfeito com seu trabalho. Junto à bateria de Mestre Ciça, o samba tem muita força e vai levantar a Sapucaí, assim como levanta nossa quadra e a nossa comunidade.

* Andrea Catão
** A imagem que ilustra este post é do carnavalesco Paulo Barros (foto: Divulgação)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O novo DNA do samba (parte 2)

O carnavalesco Paulo Barros tem sido motivo de muito comentário desde 2004, quando se responsabilizou pela criação do desfile da Unidos da Tijuca. Naquele ano, a escola apresentou o enredo “O sonho da criação e a criação do sonho: a arte da ciência no tempo do impossível”, trazendo para a Sapucaí o carro do DNA, o que deixou muita gente de queixo caído. Ele, no entanto, trabalha no Carnaval desde 1994. Sua estréia na passarela do samba foi pela escola Vizinha Faladeira, que está no grupo B.
Confira a segunda parte da entrevista de Paulo Barros ao blog Folia e Dignidade:

FOLIA E DIGNIDADE – Você se ressente de não ter sido campeão nas escolas para as quais têm trabalhado, mesmo depois de ter sido “apresentado” ao mundo do samba como a grande novidade? Considerou injusta a coloca;ao que as escolas receberam?
PAULO BARROS – Não estou ressentido pelas escolas não terem sido campeãs, mas considerei injusta a colocação, mas sobre isso não tenho nada mais a declarar.

FOLIA E DIGNIDADE – Desde quando trabalha no Carnaval carioca? Para quais escolas já trabalhou?
PAULO BARROS – Em 1994 e 1995 fiz o Carnaval da Escola de Samba Vizinha Faladeira, do grupo B. Em 1999, 2000 e 2001 trabalhei para a Arranco do Engenho de Dentro e em 2002 na Escola de Samba Vizinha Faladeira. Em 2003, fiz o desfile para a Paraíso do Tuiutí, também do grupo B. E a partir de 2004 comecei a trabalhar para o grupo Especial. De 2004 a 2006 fui o carnavalesco da Unidos da Tijuca e desde o Carnaval 2007 estou na Unidos do Viradouro.

FOLIA E DIGNIDADE – No Carnaval, qual tem sido a sua “escola”? Você se inspira em alguém em especial ou em algum carnavalesco em especial?
PAULO BARROS – Como carnavalesco trabalho desde 1994, quando comecei na Vizinha Faladeira. Mas desde os 12 anos freqüento e participo do Carnaval de uma forma ou de outra. E minha inspiração sempre foi ser diferente dos outros. Fazer sempre algo novo.

FOLIA E DIGNIDADE –Você se considera a grande novidade do Carnaval dos últimos anos?
PAULO BARROS – Não. Só me considero um artista que procura um diferencial.

FOLIA E DIGNIDADE – Qual carnavalesco que você mais admira? Quem você considera seu principal concorrente?
PAULO BARROS – Todos são fortes concorrentes. E sempre tive muita admiração pelo trabalho do Fernando Pinto.


(a terceira e última parte da entrevista continua amanhã)

* Andrea Catão
** Na imagem que abre esse post, o carro do DNA, criação de Paulo Barros na Unidos da Tijuca em 2004 (foto: Divulgação)

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O novo DNA do samba (parte 1)

Desde 2004 só se fala nele. Foi quando o desfile da Unidos da Tijuca apresentou algo novo e espetacular, coisa que jamais tinha sido apresentado na Sapucaí. E seu criador foi Paulo Barros, carnavalesco que marcou sua estréia no grupo Especial das escolas de samba criando um novo DNA para o samba. É dele a autoria das chamadas alegorias vivas, recurso que tem sido copiado, desde que foi apresentado na passarela do samba.
Hoje, ele está à frente do Carnaval da Unidos do Viradouro, escola de Niterói que, em 2007, apostou no carnavalesco para tentar conquistar seu segundo título no Especial – a Viradouro foi campeã em 1997 sob o comando de Joãozinho Trinta e Wany Araújo. Em fevereiro de 2008, Paulo Barros promete muitas novidades na mesma escola que permitiu a ele maior liberdade de criação. E é com expectativa que todos vão esperar pelo desfile da Viradouro, a última a entrar na Sapucaí no domingo de Carnaval.
O blog Folia e Dignidade entrou em contato com o carnavalesco, que concedeu uma entrevista exclusiva, mas “econômica” quando comparada aos seus feitos no Carnaval carioca. O texto, porém, não será publicado numa única edição. Será dividido ao longo desta semana. A seguir, a primeira parte da entrevista, concedida via e-mail:

FOLIA E DIGNIDADE – Não é de hoje que a Unidos do Viradouro escolhe para o Carnaval temas conceituais, a exemplo de “Sorria”, em 2005, e “Vira o Jogo”, em 2007. Em 2008, o tema “É de Arrepiar” também permite uma série de nuances para o desenvolvimento do desfile? Permite ao carnavalesco uma criação mais ousada?
PAULO BARROS – Sem dúvida pode-se brincar mais com temas inusitados como esse. Mas acredito que mesmo que tivesse que desenvolver um tema batido, como os relacionados com a história do Brasil ou a África, eu teria a mesma linha de raciocínio dos temas que costumo fazer.

FOLIA E DIGNIDADE – Como é o seu processo de criação? Gosta de ter total liberdade para trabalhar?
PAULO BARROS – Tenho liberdade para trabalhar e um ótimo relacionamento com o presidente da Viradouro, Marco Lira. Meu processo de criação é sempre o mesmo, independentemente da escola para a qual trabalho. Gosto de criar coisas novas sempre e tenho muita liberdade para isso na escola.

FOLIA E DIGNIDADE – O que vai levar de novidade para avenida em 2008?
PAULO BARROS – Vai ter muitas novidades, sim, bem diferentes do último Carnaval, mas isso eu não posso adiantar. É preciso esperar.

FOLIA E DIGNIDADE – Caso possa adiantar, dê algum exemplo do que pretende desenvolver de diferente?
PAULO BARROS – Serão muitas novidades, mas não posso adiantar.

(continua amanhã)

* Andrea Catão
** Na foto que ilustra este post, Paulo Barros coloca a bateria de mestre Ciça em cima de um carro alegórico (fotos: Carnaval 2007 da Viradouro)

domingo, 2 de dezembro de 2007

Estrangeira no samba

Quando somente assistia ao desfile das escolas de samba pela TV acalentava o desejo de me fantasiar, cantar o samba com empolgação e defender a escola na avenida. Mas quando me vi fantasiada na concentração, minha única vontade era chorar.
Estava no Rio com amigos veteranos em desfiles, quando um deles insistiu para que eu desfilasse. Disse que só o faria se fosse na Mocidade Independente de Padre Miguel, embora considerasse a façanha impossível, por já ser sábado de Carnaval.
Esse amigo, porém, deu alguns telefonemas e, em seguida, nos comunicou que poderíamos desfilar numa das alas da Mocidade. Bastava fazer um cheque para que o “contato” nos entregasse as fantasias no local onde estávamos hospedados. Aceitei na hora e, desde então, só pensava na glória do momento. E foi justamente esse o meu erro.
A fantasia era pesada, cheia de acessórios, o chapéu (que era uma coroa gigantesca com penacho) apertava minha cabeça e eu estava com vontade de ir ao banheiro – mas tive de segurar porque o único lugar disponível era o riozinho paralelo à concentração.
Foi nesse momento que percebi que não haveria glória alguma. Eu passaria incólume e desconfortável em meio à massa de foliões.
Entre aquela gente toda, minha fantasia enroscava na dos outros componentes da ala e eu não conseguia fazer o que o sujeito da harmonia mandava, como acenar para o público. Parecia que estava na minha festa de aniversário de 4 anos, quando eu tinha decidido que não choraria mais ao apagar das luzes e o acender das velas. Todos estavam borrados e aplaudindo, como na minha lembrança infantil. Só faltava a arquibancada também cantar o “parabéns a você”.
Diante do meu inferno pessoal, o tal amigo veterano me arrastou para um dos lados da avenida para que eu fosse captada pelas câmeras da Globo. É claro que também não deu certo. Fui ofuscada por outras zilhões de pessoas que tinham o mesmo objetivo. Constatei, na prática, que desfilar não tinha nada do glamour que eu tinha visto na TV. Eu não era a rainha da bateria nem a destaque principal que fica feliz em colocar os peitos para fora.
No fim do desfile, que ocorreu debaixo de chuva, só queria me materializar no quarto do hotel. Estava suja, suada, com uma vontade louca de ir ao banheiro e com os braços vermelhos da tinta que escorria do penacho.
Foi com o coração partido que aprendi que estrangeiro no samba só deve observar o espetáculo da arquibancada.

* Andrea Catão