domingo, 3 de fevereiro de 2008

Grupo de acesso nivelado

O grupo de acesso A do Carnaval do Rio foi marcado pelo equilíbrio. As escolas estiveram bastante niveladas. É claro que podemos apontar aquelas que têm mais chance de subir ao Grupo especial, mas apenas uma terá essa honra. A maratona de dez desfiles começou às 20h do sábado, dia 2, e só terminou perto das 7h. Com tempo instável, a chuva teimou em aparecer, sobretudo nos três últimos desfiles. Na frisa do setor 11 do Sambódromo, eu e a colega Andrea Catão presenciamos com clareza o movimento de recuo da bateria e os problemas de evolução, que normalmente surgem nos últimos minutos de apresentação. Vamos a um breve resumo dos desfiles das agremiações, por ordem de entrada:

Estácio de Sá - Primeira a entrar na Sapucaí, a Estácio falou das previsões do futuro com muito luxo, uma das marcas de Cid Carvalho, o mesmo da Mocidade deste ano. No ano passado ele arrasou na Vila Isabel, que ficou injustamente na sexta colocação. As fantasias eram de extremo bom gosto. No entanto, houve problemas de iluminação no tripé da comissão de frente, e a escola correu no final. A porta-bandeira desmaiou perto da praça da Apoteose.

União da Ilha - Saiu da avenida, merecidamente, aos gritos de "é campeã". Desfile impecável sob o ponto de vista da harmonia, empolgação e qualidade do samba-enredo (reedição do antológico "É Hoje", de 1982), com leveza e alegria. Houve buraco após o recuo da bateria. A Ilha não estava tão luxuosa, mas a harmonia nas cores e carros bem originais garantiram o bom desempenho. A comissão de frente era composta por cavalos-marinhos, que integram o brasão da escola. O samba, claro, foi cantado por todos: platéia e componentes. O carnavalesco é Jaques Vasconcelos, que em 2007 esteve à frente do Império Serrano.

Acadêmicos do Cubanco - A bela comissão de frente trouxe dez casais representando bárbaros, com tambores gigantes. Na coreografia, os sambistas subiam e giravam em cima dos tambores. Algus carros alegóricos apresentaram problemas na estrutura, com peças quebradas ou faltando. Em um deles, dois queijos cederam e um destaque caiu de uma altura de mais de 3 metros - a moça foi socorrida rapidamente pelos bombeiros. Na bateria, uma surpresa: os ritmistas se dividiam em duas alas e fogos de artifício estouravam. Um carro só com negros exemplificou bem o enredo sobre Mercedes Batista, a primeira bailarina negra do Theatro municipal do Rio. Bom samba e escola bem colorida.

Lins Imperial - Falando da vinda da família real ao Brasil, há 200 anos, estava muito rica. Na comissão de frente, soldadinhos de chumbo, bailarinas e outros brinquedos de criança faziam a coreografia. Os carros estavam suntuosos, como o abre-alas, em dois módulos, com três cabeças de dragão que subiam e desciam, levando destaques em cima. Outro carro trazia negros - escravos, lavadeiras etc - imóveis e que, de repente, se moviam. Houve problemas de evolução, com vários buracos. Acabou em cima da hora. O penúltimo carro. muito pesado, emperrou e as alas seguintes tiveram de passar pelo lado dele. Fantasias originais, bem acabadas e coloridas. O casal de mestre-sala e porta-bandeira estava bastante luxuoso, com muito brilho, nas cores da escola: verde e rosa.

Império da Tijuca - Com enredo sobre o Jardim Botânico, criado por Dom João, apresentou comissão de frente composta por casais de nobres. Carros grandiosos, muito bem feitos e acabados e com iluminação adequada. A exceção foi a mão quebrada da escultura gigante de Dom João, que ameaçava cair. Destaque para um carro retratando a entrada do Jardim Botânico, com palmeiras reais. Ótimo samba. Vestimenta do casal de mestre-sala e porta-bandeira em vários tons de rosa, com muito luxo e borboletas na saia dela. Todos cantaram o samba. Não teve
problemas de evolução. Deve disputar o título.

Caprichosos de Pilares - Enredo sobre a cidade fluminense de Itaboraí. Comissão de frente com casais de índios com arco e flecha. Casal de mestre-sala e porta-bandeira vinha logo atrás, o que não é muito usual. Grandes e belos carros sobre história da cidade, retratando laranjais, artesanato em barro e indústria. Alas compactas. Desfile correto e componentes cantando o samba. Passou com muita pegada e batida marcante da bateria.

Santa Cruz - Sétima a desfilar, apresentou enredo sobre a cidade de São Francisco Xavier de Itaguaí. Entrou com comissao de frente com seres aquáticos verdes bastante criativos. No carro abre-alas, parte do queijo de destaque central começou a pegar fogo em frente ao setor 11. O sambista, fantasiado de Dom João, saiu a tempo e os bombeiros agiram rápido. Depois do susto, o destaque voltou a seu posto. Carros suntuosos e samba forte. Teve pequeno problema de evolução. O carnavalesco é Fran Sérgio, que integra comissão de Carnaval da Beija-flor. É forte candidata ao título.

Renascer de Jacarepaguá - Comissão de frente com carruagem feita de estrutura metálica dourada, rodeada por cavaleiros portugueses e franceses, que simulavam uma batalha. Lindas baianas com roupa preta e cabeleira branca, como fidalgas. Abre-alas com estátuas humanas (guerreiros), que se movimentam em certos momentos do samba. Apesar da chuva forte, a escola não perdeu a empolgação. Bons carros e fantasias. Evolução e harmonia corretas.

Acadêmicos da Rocinha - Com muito brilho, falou do Nordeste. Comissão de frente com guerreiros pierrôs. Destaque para carro com cangaceiros que levantavam a bandeira da paz e para a alegoria de Padre Cícero, circundada por romeiros. O refrão do samba era fácil e empolgante. Pode perder pontos, pois a ala das baianas tinha componentes abaixo do mínimo permitido. Desfilou com garra na chuva e desponta como postulante ao título.

Império Serrano - Fechou o desfile debaixo de forte chuva, falando de Carmem Miranda. Muito colorida, leve e alegre. Buraco na volta do recuo da bateria. Lindas fantasias criadas por Renato Lage. No final, o carro que trazia uma roleta de cassino apagou-se. Toda a escola cantou o empolgante samba de ponta a ponta. Está entre as favoritas.

* Christiano Bianco

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