segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Crimes, contravenções e Carnaval

Nessa semana que passou, mais um capítulo do "núcleo podre" do Carnaval carioca veio à tona. O presidente da Mangueira e policial militar aposentado, Percival Pires, renunciou ao cargo depois da divulgação de imagens dele entregando uma placa em homenagem ao traficante Fernandinho Beira-Mar e sua mulher Jacqueline Moraes durante a festa de casamento promovida pela noiva em um condomínio da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 20 de outubro. Beira-Mar estava preso em Campo Grande (MS).
O mau-cheiro no samba não é de hoje. Infelizmente jogo do bicho, tráfico, lavagem de dinheiro, corrupção e tantos outros crimes e contravenções têm andado juntos com as escolas cariocas. Os próprios resultados do Carnaval são colocados em xeque. O tricampeonato da Imperatriz Leopoldinense de 1999 a 2001, por exemplo, coincidiu com o período em que o então presidente da agremiação, Luizinho Drummond, comandava a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba). Drummond, hoje solto, já foi condenado e preso por envolvimento com o jogo do bicho.
Há alguns meses os então presidentes da Liesa, capitão Guimarães, e da Beija-Flor, Aniz Abrahão David, o Anízio, foram presos na Operação Furacão,da Polícia Federal, sob a acusação de comandar uma organização que atua na máfia de caça-níqueis. As investigações ainda revelaram, por meio de gravações telefônicas, que os dois estavam por trás de um esquema de compra de jurados para favorecer a Beija-Flor, campeã de 2007 – a escola também foi tricampeã de 2003 a 2005. Anízio teria até contratado um pistoleiro para pressionar jurados e seus familiares. Na época, o jornal O Globo trouxe ampla reportagem sobre esse jogo sujo.
Agora, na tentativa de tapar o sol com a peneira, o governo vem com um discurso demagogo, enfadonho e mentiroso ao propor que empresas estatais banquem as escolas de samba do Grupo Especial do Rio em 2008. Diz reportagem da Folha de S. Paulo desse domingo, 9 de dezembro, assinada por Raphael Gomide: “Lula libera R$ 12 mi para o samba do Rio. Anúncio foi feito por Gilberto Gil, que minimizou suspeitas de irregularidades envolvendo escolas cariocas”. O dinheiro será doado pela Petrobras e pelas petroquímicas Braskem e Unipar, sendo R$ 1 milhão para cada uma das 12 agremiações.
A lógica, burra, é a mesma do financiamento público de campanhas políticas. Ou seja, nós, pobres contribuintes, é que teríamos de pagar para evitar caixa dois, corrupção, superfaturamento etc nos processos eleitorais – e depois deles. Tudo porque o Poder Público mostra-se incapaz de fiscalizar o financiamento de campanhas ou desfiles e de punir rigorosamente os responsáveis pelas absurdas ilegalidades cometidas. No caso do Carnaval não faltam empresas – privadas – interessadas em patrocinar as escolas. Se é que prefeituras e governos estaduais têm ajudado as escolas que falem no enredo de suas cidades ou Estados, como forma de promover o turismo. Mas aí se trata propriamente de patrocínio e não simplesmente de distribuição de verbas.

* Christiano Bianco

2 comentários:

Anônimo disse...

Estava com saudades da época em que era repórter de polícia, hein?

hehehehehe

Anônimo disse...

Quem não se lembra do desfile do Salgueiro, em que bicheiros foram homenageados?
Tenha dó.