domingo, 9 de dezembro de 2007

Pisa forte na avenida

É claro que o post da minha colega de blog intitulado “Estrangeira no samba” foi muito mais um desabafo de uma experiência marcada por uma série de malfadadas coincidências do que um aprendizado de que “estrangeiro no samba só deve observar o espetáculo da arquibancada”. Digo isso com base nas minhas quatro vezes como desfilante – a última delas em 2004, juntamente com a Andrea, desfile este que realmente pode ser considerado o menos glamoroso dos quatro.
Minha estréia foi em 1998 na São Clemente, no Grupo de Acesso. A fantasia não era tão pesada, o samba-enredo empolgava, e o tempo estava bom. A passagem pela Sapucaí transcorreu sem percalços – e a escola subiu para o Grupo Especial. Ter estreado no Grupo de Acesso certamente amenizou a ansiedade e a responsabilidade, servindo como uma preparação para o desafio maior, que é o de ser componente de uma agremiação do Grupo Especial, experiência que ocorreu já no dia seguinte, quando saí pela Mocidade Independente de Padre Miguel. A fantasia era bem maior e mais pesada que a da São Clemente, mas a animação do pessoal da ala e o prestígio de desfilar na verde-e-branco, que havia sido campeã dois anos antes, falaram mais alto. Os 20 minutos – é mais ou menos esse tempo que dura a passagem da cada ala - na passarela do samba voaram. Ver o público cantando e aplaudindo é a maior recompensa.
Por outro lado fica uma ponta de decepção por não poder presenciar o desfile como um todo. Será que teve problema na evolução, os carros alegóricos entraram todos, como foi a apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira e da comissão de frente? São perguntas sem resposta, pelo menos na hora. Por isso, a decisão de desfilar implica abrir mão de ver o espetáculo, apreciar a beleza integral do desfile, que são o deleite do grande público. Nós, blogueiros fãs incondicionais dos desfiles, somos sim voyers.
Meu terceiro momento de “pé no chão” foi na Império Serrano em 2000, no Grupo de Acesso – novamente fui pé-quente e a tradicional escola voltou à elite do carnaval carioca.
Por fim, em 2004, voltei a representar a Mocidade na avenida num ano pouco glorioso para escola, que ficou na (não tão ruim) oitava colocação. Nossa percepção ao atravessar a Sapucaí refletiu o desempenho geral da agremiação, última a desfilar na segunda-feira. Com o dia já amanhecendo e uma chuva persistente, os espectadores que se aventuraram a assistir ao desfile, na maioria certamente fãs de carteirinha da Mocidade, tentavam, sem sucesso, ajudar a levantar os passistas, já exaustos devido à espera interminável na concentração por causa do atraso e da chuva. O samba fraco, com um refrão ridículo (“Pare, pense / Olha a sinalização”) piorou a situação. Prefiro considerar o episódio apenas como um momento infeliz da grande verde-e-branco de Padre Miguel. Se tiver vontade, não hesite em pisar forte na passarela e soltar o folião que existe em você. Afinal, é Carnaval!

* Christiano Bianco

3 comentários:

Anônimo disse...

amei, amei, amei

Anônimo disse...

Quando li o post da Catão queria me ver longe de um desfile. Agora, quero participar da festa.
O Rio que me aguarde.

Anônimo disse...

Acho que desfilar na Sapucaí deve ser uma coisa do outro mundo, para iniciantes ou veteranos. Parabéns por ambos os textos.