São de cortar o coração as imagens exibidas agora à noite nos telejornais: o carro do Holocausto sendo desmontado. Fruto de um trabalho suado e muito bem pensado, os bonecos que compunham a alegoria (representando corpos de judeus) foram arrancados por integrantes da Viradouro. O choro do carnavalesco Paulo Barros, em entrevista ao Jornal da Globo, resume a perplexidade e indignação diante da liminar concedida pela juíza Juliana Kalichszteim - atenção para o sobrenome dela -, impedindo a participação do carro no desfile.
E o presidente da Federação Israelita do Rio, Sérgio Niskier, ainda reafirma que o "motivo" de ter recorrido à Justiça foi a descoberta de que haveria um componente fantasiado de Hitler no carro. Não sejamos hipócritas. Napoleão, imperadores romanos e tantos outros déspotas sanguinários são lembrados nos enredos das escolas desde que o Carnaval existe. Por que só Hitler não pode aparecer? A iniciativa de Paulo Barros deveria ser encarada como um protesto face aos descalabros do Holocausto e não como chacota e banalização. Vale reproduzir desabafo dele em entrevista ao site Tudo de Samba:
"A coisa foi feita como forma de alerta para que uma tragédia como a que aconteceu não se repita. A coisa está sendo divulgada como se fosse um ato agressivo de minha parte. Na verdade, a liberação do Abre-Alas no site da LIESA, acabou fazendo com que tivessem uma interpretação errada da alegoria. O Corintho, que desfilaria no carro representando Hitler, iria fazer uma interpretação de culpa pelo massacre. Eu lamento que as pessoas prefiram fechar os olhos para um fato histórico da gravidade do Holocausto e tenham preferido banalizar o alerta que eu tinha preparado para mostrar no desfile da Viradouro", afirma Barros.
Mas o carnavalesco não se dá por vencido e promete criar em tempo recorde uma nova alegoria, que receberá o nome de "Liberdade de expressão", em protesto a esse e muitos outros episódios lamentáveis de censura que permeiam nossa história. Um deles, recente, que poderia ser retratado, é a proibição da biografia de Roberto Carlos, que se sentiu ofendido com trechos do relato de fatos de sua vida no livro de autoria de Paulo César Araújo.
* Christiano Bianco
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