domingo, 2 de dezembro de 2007

Estrangeira no samba

Quando somente assistia ao desfile das escolas de samba pela TV acalentava o desejo de me fantasiar, cantar o samba com empolgação e defender a escola na avenida. Mas quando me vi fantasiada na concentração, minha única vontade era chorar.
Estava no Rio com amigos veteranos em desfiles, quando um deles insistiu para que eu desfilasse. Disse que só o faria se fosse na Mocidade Independente de Padre Miguel, embora considerasse a façanha impossível, por já ser sábado de Carnaval.
Esse amigo, porém, deu alguns telefonemas e, em seguida, nos comunicou que poderíamos desfilar numa das alas da Mocidade. Bastava fazer um cheque para que o “contato” nos entregasse as fantasias no local onde estávamos hospedados. Aceitei na hora e, desde então, só pensava na glória do momento. E foi justamente esse o meu erro.
A fantasia era pesada, cheia de acessórios, o chapéu (que era uma coroa gigantesca com penacho) apertava minha cabeça e eu estava com vontade de ir ao banheiro – mas tive de segurar porque o único lugar disponível era o riozinho paralelo à concentração.
Foi nesse momento que percebi que não haveria glória alguma. Eu passaria incólume e desconfortável em meio à massa de foliões.
Entre aquela gente toda, minha fantasia enroscava na dos outros componentes da ala e eu não conseguia fazer o que o sujeito da harmonia mandava, como acenar para o público. Parecia que estava na minha festa de aniversário de 4 anos, quando eu tinha decidido que não choraria mais ao apagar das luzes e o acender das velas. Todos estavam borrados e aplaudindo, como na minha lembrança infantil. Só faltava a arquibancada também cantar o “parabéns a você”.
Diante do meu inferno pessoal, o tal amigo veterano me arrastou para um dos lados da avenida para que eu fosse captada pelas câmeras da Globo. É claro que também não deu certo. Fui ofuscada por outras zilhões de pessoas que tinham o mesmo objetivo. Constatei, na prática, que desfilar não tinha nada do glamour que eu tinha visto na TV. Eu não era a rainha da bateria nem a destaque principal que fica feliz em colocar os peitos para fora.
No fim do desfile, que ocorreu debaixo de chuva, só queria me materializar no quarto do hotel. Estava suja, suada, com uma vontade louca de ir ao banheiro e com os braços vermelhos da tinta que escorria do penacho.
Foi com o coração partido que aprendi que estrangeiro no samba só deve observar o espetáculo da arquibancada.

* Andrea Catão

5 comentários:

Anônimo disse...

mentira

tenho certeza que vi você na globo, com pedro bial e glória maria comentando a sua desenvoltura

Sherry

Anônimo disse...

Imaginava algo mais glorioso... Mesmo assim, um dia ainda quero desfilar e mostrar ao Brasil toda a malemolência da mulher jornalista.
Beijos,

Anônimo disse...

que raio de malemolência é essa?

Anônimo disse...

Vamos num samba de gringo para tentar fazer sucesso. Garanto que a gente consegue virar celebridade numa dessas.

Marcia

Anônimo disse...

"Ela desatinou
Viu morrer alegrias
Rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando
E ela inda está sambando..."